15 maio 2007

E as pessoas?

Não nasci, nem tão pouco morei na Urgeiriça, mas vivi lá! Muitos e muitos anos, cresci no meio daquelas pessoas, era uma daquelas pessoas, o meu avô trabalhou na ENU (Empresa Nacional de Urânio), eu andei no jardim escola da Urgeiriça, fiz a escola primária na (agora incrivelmente abandonada, ou melhor deixada ao abandono) escola primária da Urgeiriça, brinquei nos parques, brincávamos aos tesouros deixados pelos ingleses, joguei no campo, corria a esperar o meu avô quando a sirene tocava às 5 horas, comia o pão do forno comunitário, ia à marcha atlética, ao cinema e teatro na Casa do Pessoal, jogava ping-pong a 10 escudos,... ri, chorei... sempre me considerei mais da Urgeiriça do que propriamente de Canas... qualquer diferença que haja entre esses conceitos...

...Era uma terra cheia de vivacidade cheia de... pessoas! Hoje por vezes ainda por lá passo mas dou com um "beco sem saída"... desapareceu a vivacidade, desapareceram muitas das pessoas, ... esquecida por já não dar dinheiro como antes, abandonada por um governo que encheu (e enche) os cofres à sua conta... As pessoas?... Passaram a ser mais escolhos da terra que já não dá,
também elas esquecidas por quem prometeu mundos e fundos...

E as Pessoas?... removem e reviram terras escondendo os problemas em vez de os resolverem, movem escolhos e requalificam paisagens de maneiras que não lembram a ninguém, constroem muros e barreiras para enganar a Natureza... E as Pessoas?...



Apresentação enviada por tix e retirada do jornal Público

19 comentários:

Alexandre disse...

Eu sou mais do Paço do que da Urgeiriça, mas estou, obviamente com estas pessoas, como estou com o abandono lamentável a que toda a freguesia é vítima.

Abraço

Anónimo disse...

Na minha opinião é mais triste ou nostalgico que propriamente lamentável. Esta é mais uma condicionante do progresso. É verdade que o estado terá engrossado os seus cofres à força de quem trabalhou nas minas de uranio mas esses são sinais dos tempos e ainda bem que hoje, os mesmos trabalhadores, não estão sujeitos a essa vida de inumeros perigos. Por exemplo, quando se descobriram as inumeras potencialiades do chumbo não se pensou nos seus maleficios. Rapidamente a sua extracção se tornou numa industria de milhões que empregava outros tantos. Pode dizer-se que a maioria dos mesmos são hoje desempregados mas seria insustentavel manter a extracção da substancia nos mesmos moldes, assim como os perigos para a vida de quem o fazia.
Os tempos mudam, as pessoas também. Quantos em Canas gostariam hoje de continuar a trabalhar nas minas de Urgeiriça? Provavelmente muito poucos... E de qualquer forma as pessoas acabaram por encontrar outros meios de sustento. Eu compreendo a nostalgia de quem lá viveu numa altura próspera mas é preciso pensar na globaliadade do problema.
Também, aqui em Setúbal, a industria conserveira chegou a empregar 60% da população. Hoje em dia existe apenas uma das cerca de 250 fábricas existentes nos anos 40. Naturalmente que quem nelas trabalhou as recorda com uma certa nostalgia mas também se lembram de trabalhar 12 horas por dia sem direito a um unico dia de descanso. Isto numa altura em que as mesmas eram fundamentais para o esforço de guerra Alemão na Segunda Guerra Mundial, através do fabrico de conservas para rações de combate.
Tenhamos presente ainda que a mesma nostalgia se deve, em grande parte, não ao trabalho então desenvolvido mas sim a uma juventude e vivacidade entretanto perdidas.
Porque a verdade é que as pessoas de Setubal, tal como as de Canas/Urgeiriça, encontraram outras industrias e formas de sustento. - "Life always finds a way".

Abraço

PS- Com isto não quero dizer que não compreenda a tua tristeza Farpas. Também eu me recordo dos espaços em que brincava, onde agora se erguem prédios enormes. Mas a vida é feita de mudança.

Anónimo disse...

Acho que em causa não está só a nostalgia, mas sim a injustiça a que essas pessoas agora estão sujeitas. Durante anos submeteram-se a trabalhar em condições de risco que muito provavelmente elas deconheciam e agora muitas delas (demasiado no meu ponto de vista) estão a sofrer as consequências dessas condições. Os níveis de cancro na região são anormalmente altos e o estado agora desresponsabiliza-se. Isso é que acho triste e acho que é também a isso que o meu Amigo Farpas se refere.
Beijinhos!

Farpas disse...

Pois eu estava precisamente a referir-me ao que a "Maria" diz no comentário. Sim Tó isso tudo também são coisas importantes, de Canas sairam duas grandes unidades fabris que condicionaram todo o desenvolvimento (a ENU e a Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos), mas não é desse abandono que falo... é do abandono a que a população foi sujeita a nível de acompanhamento médico, porque esta zona é cheia de problemas ambientais devido ao Urânio que hoje conhecemos bem melhor do que a maioria das pessoas na altura, durante anos a fio o estado cometeu o crime do deixa andar e não se preocupou minimamente em tentar menorizar todos estes factores ambientais aumentando assim com o seu desleixo os problemas desta população. Como a "Maria" diz e muito bem esta zona tem números de cancro demasiado elevados para ser considerada apenas "mais uma", o estado tem que assumir as suas responsabilidades...

Cingab disse...

Eu, ao contrário do Alexandre borges, sou mais do Rossio que da Urgeiriça e até porque a Urgeiriça pertence ao Paço (lol)

Mas aquilo que mais custa é ver industrias a desaparecer, que deram milhões ao estado e agora o mesmo estado conta tostões para uma recuperação ambiental e acompanhamento dos trabalhadores e populações... Lembrar que quando Canas levou inertes a Lisboa foi preciso outros irem limpar com factos especiais de protecção contra as radiações... E nós que vimemos décadas com milhares de metros cúbicos desses mesmos inertes somos o quê?...
Toda a vida é feita de mudança e eu concordo, há coisas que são como são (ou não são), mas... Mas, o interior de Portugal não existe!...

®efeneto disse...

Saudações amigas. Venho-lhe por este meio pedir a sua autorização para publicar este seu post no blog,http://urgeirica.blogspot.com/. Como gosto de publicar neste blog tudo o que se relaciona com a Urgeiriça gostaria da sua autorização. Desde já obrigado pelo tempo a dispensar...saudações...efeneto.

Farpas disse...

@cingab: ou até quando no momento em que retiravam mais umas toneladas de dinheiro radioactivo para vender alguém teve a excelente ideia de pegar numa caixa cheia de pedras e deitar alguns ovos batidos lá por cima de modo a amarelecer as pedras e a polícia fugiu logo mandando vir os tais senhores de máscara e fatos brancos... é que é pelos vistos é perigoso para todos menos para nós...

@efeneto: à vontade.

Tomahock disse...

Eu também ainda sou de algum tempo de prosperidade da Urgeiriça! Também passei alguns dias por lá! Ir brincar para o agora (se não estou em erro) restaurado parque da Urgeiriça! E ainda numa juventude mais recente ir para os caminhos da Urgeiriça andar de bicicleta! Passar pela casa da pólvora! pelos lagos etc etc etc! Sempre gostei muito dessa zona!

@Cingab Mas olha que neste momento... Moras mais perto da Urgeiriça do que do Rossio :P

®efeneto disse...

Obrigado pela atenção...já publiquei...saudações amigas...efeneto.

ibotter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ibotter disse...

Temos que fazer qualquer coisa pelos que ainda "resistem" e pelos que perderam familiares e colegas de trabalho!
O Estado avança rápido e em força para a venda de toneladadas de Urânio que vão sustentando o país mas é lento e esguio a dar dignidade aos que foram "vencidos pelo urânio".

Cingab disse...

@Tomahoc,
Com muito orgulho...
E até estou mais perto dos inertes que a própria Urgeiriça... :S
Quanto ao resto já disse por aqui... Onde o Cingab Está é sempre o Rossio... Nem que seja dentro do pavilhão do Paço... lol

Anónimo disse...

Sim, relativamente aos problemas de saude que continuam por resolver, estamos de acordo. Mas Farpas, nesse caso, devias ter sido mais explicito no teu post.

Abraço

Farpas disse...

Deixei subentendido, para quem está mais por dentro do assunto era claramente visível porque voltamos a falar mais nisso depois de terem morrido mais duas pessoas vitimas das minas, claro que para quem vê de "fora" pode ser pouco claro, mas acho que os links ajudam, se reparares sempre que está escrita a palavra "Urgeiriça" está linkada para um sítio diferente, a 1ª conta o que se passava nas minas, a 2ª dá conta da morte mais recente, a 3ª fala das mortes no geral e a 4ª no atabalhoado "tapa buracos" que nos empurraram para a requalificação ambiental. Mas fica aqui nos comentários o verdadeiro objectivo do post, assim quem vier a seguir já sabe do que falo, até porque eu vou insistir neste assunto porque é simplesmente uma vergonha o que se passa quando continuam a morrer pessoas atrás de pessoas sem qualquer tipo de apoio.

Cingab disse...

Sim simplesmente uma vergonha... Mas, o que fazer? gostava que me dissessem... asério que gostava!...

Farpas disse...

Olha acho que primeiro tem de haver uma responsabilização por parte do estado, a quantidade de caso que temos na nossa zona não é uma infeliz coincidência, e depois dessa tomada de posição existe uma certeza, cura certa não há, existem muitos tratamentos que se podem fazer, e tudo isso é dispendioso, para mim cabe ao estado ajudar monetariamente a suportar todos esses custos... pelo menos isso, mas eu sempre ouvi "o primeiro passo é assumir"...

Cingab disse...

pois

Anónimo disse...

@ tomahock: tu gostavas era do monte amarelo! n venhas ca agr c conversas. peço dscp por interromper esta conversa seria

VIVEIROS-BATISTA disse...

realmente a urgeiriça é um caso de saude publica que nos afecta a todos directa ou indirectamente..

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