02 fevereiro 2006

Medicamentos

AQUI está uma notícia onde não me incomoda o dinheiro gasto...


Por patologia, os medicamentos contra o cancro (antineoplásicos e imunomoduladores) foram os que representaram uma maior despesa em 2004: 88.579.223 euros. Só no primeiro semestre do ano passado, a despesa com estes fármacos foi de 55.487.956 euros. O custo médio de tratamento por doente oncológico foi de 1772 euros em 2004.


No meu caso, felizmente, não precisei dos comprimidos para o enjoo, que são dos mais caros, apenas por uma vez tive de os trazer para casa por motivos de percaução, mas nem os cheguei a tomar, tive a sorte de aguentar "bem" os tratamentos, mas por exemplo tive de fazer um cateter com acesso externo (que ainda tenho!) que dei conta que é bastante caro quando fui para Inglaterra e tive de o ir limpar (ainda o tenho implantado, e precisa de limpezas regulares de 6 em 6 semanas), no Hospital disseram-me que não estavam habituados a lidar com aquele tipo de catéter porque era caro e quem o quisesse pôr tinha de o pagar do próprio bolso, o que levava a não ser muito usado por lá.

Acho que este dinheiro é "bem" gasto! Porque para além das despesas de medicação as pessoas que se encontram nestas situações têm outras despesas que aumentam... no meu caso quando foi descoberto e veio a notícia que teria de fazer quimioterapia colocaram-me uma série de opções, entre as quais ser transferido para o IPO de uma cidade à minha escolha (no caso Coimbra), mas eu decidi que queria ficar por Faro, para continuar com os estudos e estar mais perto dos amigos. Tinha na minha teimosia que não havia de ser um cancro a mudar a minha maneira de viver... claro que isso implicaria um esforço redobrado dos meus pais... e é daquelas coisas que não se pagam... Eu tinha de ficar internado uma semana, depois saia durante duas semanas, voltava a entrar mais uma semana, durante 6 ciclos. No inicio de cada semana de internamento os meus pais e o meu irmão (e por vezes a minha avó) vinham para Faro, ficavam o fim-de-semana e iam-me levar ao Hospital (entrava ao Domingo e saia à sexta de tarde). Depois o meu pai e irmão voltavam para casa e a minha mãe ficava em minha casa indo todos os dias para o hospital acompanhar o meu tratamento e "levar" com o meu mau humor... na sexta feira de saida o meu pai voltava a vir a Faro, ficavam o fim-de-semana comigo e voltavam ao trabalho... cada viagem de cerca de 600 Km + portagens, não ficavam baratas e sei que implicou um esforço não só financeiro como fisico e psicológico da parte deles... para além disso a minha mãe não trabalhava nas minhas semanas de internamento... enfim, pude ter escolha! Puder tomar a minha decisão com o apoio dos meus pais, e tenho plena consciência que se não tivesse feito dessa maneira provavelmente não teria "aceite" os tratamentos até ao fim do último ciclo, porque os amigos e a namorada também tiveram um papel fundamental, assim como a "distracção" dos estudos e trabalhos.


2 comentários:

Anónimo disse...

Farpas, meu amigo, estes teus "depoimentos" tão comoventes são um pouco um "diário de doença" e penso que têm um certo efeito catártico, não é?
Mas entende-se bem quando dizes que tens uma família formidável. Por outro lado, pondo-me na pele dos teus pais, tendo um filho com um problema desses o que é que não se faz?!
Mas repito que és um tipo com sorte, em vários aspectos. E de facto há dinheiro que é mesmo bem gasto.

Farpas disse...

Tenho de facto uma familia fantástica! Sim realmente se tivesse um filho nessa situação (bato na madeira) provavelmente faria o que podia e o que não podia, mas o facto é que olhando agora para trás vejo que (embora não me arrependa da decisão, e aposto como os meus pais também concordam que foi uma grande ajuda eu ter ficado pelo "meu meio") foi uma decisão que me facilitou a vida a mim e deixou os meus pais com a vida numa mala a andar de um lado para o outro.

Tem realmente um efeito catártico, por norma não falo muito nisso, principalmente porque comigo quase ninguém puxa esse tipo de conversa, aliás por norma as pessoas têm medo de falar de cancro ao pé de mim, então se for um caso onde alguém morre... e vejo perfeitamente quando vão dizer alguma coisa que olham para mim primeiro, mas eu gosto de falar no assunto, aliás até acho que devia falar mais, quando o tive fui falar com um amigo que já tinha tido (de outro tipo mas tamém cancro), e foi uma ajuda ENORME, pois deu-me grandes conselhos, principalmente na maneira de lutar contra os efeitos secundários, e gostava de poder ajudar alguém que precisasse também da minha experiência.

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